Ang Lo - Karuvá Sy (2025)
Por trás da canção
A inspiração para a escrita de Karuvá Sy vem da vontade de contar uma história. Sempre gostei muito de ouvir histórias e estórias, desde minha infância. Ouvia por horas a fio o que minhas avós, tias, tios, primas e primos contavam. O que meus pais contavam. O que os vizinhos e conhecidos contavam. Sempre me interessou muito — principalmente as que relatavam tempos antigos e mistérios. Já na adolescência, descobri a literatura e, com isso, passei a conhecer ainda mais histórias e estórias. Sempre quis contar a minha. Mas a letra dessa música não necessariamente conta uma história como deveria, detalhadamente. Acaba sendo pouco tempo, dentro de uma canção — o que nos obriga a resumir.
Como uma canção não é só letra, é também música — aproveito esse recurso para tentar ajudar a compor um cenário imaginário, e levar o ouvinte a “viajar” por esses cerca de cinco minutos.
Letra da Música:
Karuvá Sy
Andando por um deserto encontrei
O “Poder” em forma de planta eu achei
Numa névoa muito espessa,
Entidade da Natureza
Poderosa companhia eu encontrei
Me falou de um mundo subliminar
Do abissal e do sistema estelar
Sobre o bem, sobre o mal
Seres num plano astral
E sobre a “Senda do Guerreiro” trilhar
No primeiro raio de luz acordei
E ao redor minha companhia procurei
Estava só, com certeza
Único na redondeza
Mas sabia não ser algo que sonhei
Segui meu caminho rumo ao Mar
Durante a caminhada pude notar
Mudança em minha percepção
Não era só mais um na multidão
Mudança em minha percepção
Apesar de incerto a determinação
Ativamente agora eu poderia influenciar!
Na minha visão, essa canção tem três elementos principais: o deserto, a força da natureza e o Mar.
O deserto é onde se passa a história. Para mim, um deserto não é um lugar onde não existe nada, apenas areia. Aprendi estudando, lendo e assistindo a documentários que, mesmo com certa escassez, existe muita vida ali — em formas que não costumamos ver. Talvez por isso não consigamos perceber o quanto de vida realmente há em um deserto: por falta de costume de observá-lo.
Mas o deserto ao qual me refiro é aquele metafórico, interno, onde outras pessoas nem sempre conseguem acessar. É aquele sentimento que temos muitas vezes de que, mesmo cercados de pessoas, estamos sozinhos. São as coisas que só nós podemos fazer por nós mesmos. É esse deserto. Muitas vezes, não vemos muitas possibilidades justamente porque não estamos acostumados a observar essa paisagem, esse silêncio — e acabamos acreditando que estamos sozinhos em um lugar vazio.
É um exercício interessante observar a si mesmo, compreender o que se passa, e perceber que ali também podemos ser tocados pelo “externo”.
Isso nos leva ao segundo elemento: a força da Natureza. Aprendi muita coisa com a simples observação da natureza. Karuvá Sy simboliza justamente como a Mãe Natureza me afetou, naquele momento, e ainda o faz, me mostrando diversas coisas — uma experiência verdadeiramente mística. Um verdadeiro contato com o Onipotente, Onisciente e Onipresente. Mesmo que momentâneo, ou seja, não contínuo, mesmo que apenas um toque, apenas uma noite — mas uma noite profunda, de maneira profunda.
São ensinamentos para melhor conduzir a existência, não uma receita para o sucesso ou resolução de todos os problemas. Ao observar-se, meditar, podemos encontrar respostas para perguntas que nem sabíamos que precisávamos fazer.
Daí então, você passa a ter a capacidade de levar a vida — e não mais de apenas deixar-se levar por ela. O deserto pode continuar deserto, ou talvez não, mas o toque da natureza te transforma. Te torna diferente. Te transforma de mero telespectador em diretor da própria vida. E você ganha a capacidade de ver quanta vida há "naquele deserto".
E o terceiro elemento que mencionei é o Mar. No meu imaginário, o Mar, com letra maiúscula mesmo, é o objetivo. É o que desejo alcançar. É para onde estou indo.
Observe que, na letra, “Segui meu caminho rumo ao Mar”, não significa que cheguei ao Mar — mas que ajustei minha rota.
O que é o meu Mar? É um mistério. Mas posso te assegurar que não é nada material. Acredito que seja justamente entender que a jornada não acaba — e que devemos fazer o melhor possível dentro da nossa.
Parece paradoxal, mas acredito que chegar ao Mar é entender que a jornada não acaba e precisamos continuar. Ela não acaba, e por isso devemos aceitá-la. Estar viajando é o fim, em si.
Deixando um pouco de lado o aspecto filosófico da coisa, e falando mais sobre música
Após escrever a letra, ao relê-la, percebi que ali existiam elementos que poderiam ter saído dos livros de Carlos Castaneda, do Tolkien, do Lewis Carroll, Paulo Coelho ou do Daniel Munduruku. Inconscientemente, essas coisas orbitam nosso imaginário — e às vezes vêm à tona quando menos esperamos. São influências, afinal.
Até antes de concluir a gravação, eu não havia determinado qual seria o nome da música. Pensei muito, mas não queria que tivesse um nome simples, tipo “A Jornada” ou “A Viagem”. Cheguei a pensar em colocar um nome em latim, como nas músicas de Jorge Ben.
Foi quando me ocorreu que essa história tem muitos elementos parecidos com os dos mitos de nossos ancestrais, e pensei em um título em tupi-guarani. Ao mesmo tempo que seria algo pouco comum, também seria uma forma de homenagear e demonstrar respeito aos povos que fazem parte de nossa origem brasileira.
Comecei então as pesquisas e encontrei o Dicionário de Tupi (antigo) – Português, de Moacyr Ribeiro de Carvalho (1987). Pesquisei também na Biblioteca Digital Curt Nimuendajú, até que cheguei ao termo, que pode ser traduzido livremente como “Entidade Vegetal” ou “Mãe das Folhas” — numa conotação de guardiã de conhecimentos que os ensina.
Realizei essa pesquisa com bastante cuidado, mas não conheço alguém que fale a língua para ter certeza de seu exato significado. Caso eu tenha cometido alguma gafe, peço que me perdoem e ressalto que meu mais profundo desejo é o de exaltar e homenagear a cultura ancestral dos povos nativos de nossa terra.
Espero, de verdade, que gostem desse trabalho — e que ele possa, de alguma forma, acrescentar algo positivo à vida de vocês.
Desejo também que esse título desperte em vocês admiração, respeito e curiosidade acerca da cultura dos nossos povos originários.
Trabalho estético e estratégia de divulgação
A capa foi desenvolvida com a ajuda de uma IA, mas o conceito já estava sendo esboçado a algum tempo, antes mesmo de iniciar a gravação. Toda vez que eu ensaiava a música, me vinham as imagens, as cenas da estória, à mente, e a concepção da capa é uma dessas cenas.
Eu de fato queria algo que ficasse rústico, com certa cara de "cordel", uma pegada de xilogravura. Resolvi também usar uma caricatura minha.
Apesar de auxiliado pela IA, o trabalho de edição da imagem, e filtros utilizados foram feitos por mim mesmo, junto a um software de edição.
Já as animações dos recortes da capa, faram feitas por uma outra IA, diferente da que me ajudou na concepção da imagem da capa do single.
Para registro, deixo aqui os teaser utilizados na divulgação:
Dei uma estudada e pesquisei muito também sobre estratégias de divulgação, e resolvi trabalhar esse lançamento como um experimento dessas teorias que busquei. Veremos se vai dar certo de fato.
Momento e ambiente da gravação/produção da música
A vida e o mundo não são estáticos. Por mais que a gente queira paz e foco para realizar nossos projetos, parece que quanto mais precisamos de concentração, mais coisas surgem para tirar justamente isso. É a tal da Lei de Murphy, né?
Pois então… muita coisa aconteceu desde que comecei a trabalhar nessa canção.
Teve onda de calor, salário atrasado seguido de demissão, guerra entre tráfico e milícia, tráfico e polícia, polícia e milícia, tráfico e tráfico, início do julgamento do bozo, alta no preço dos alimentos, café mais caro que o normal…
Mas teve também corrida e contato com a natureza pra "voltar ao eixo", volta às aulas, estágio, aniversários, casamento… Vixi, aconteceu muita coisa nesses quase 4 meses de produção. Mas consegui!
Fui acometido também por aquela velha conhecida “síndrome do impostor”. Mas isso sempre aparece, e eu precisei criar coragem e seguir em frente. Só duvidar de mim não me levaria a lugar nenhum — então “bora confiar”. Sei das minhas limitações técnicas, mas também reconheço minhas qualidades, o que é comum em qualquer pessoa.
Voltando à música, apesar de ter começado a gravar em janeiro de 2025, essa canção foi composta há anos, e na época, estava cotada para fazer parte do álbum “#Cifrado”. Mas agora entendo por que não lancei tudo naquela época. As músicas precisavam de tempo para "maturar". Hoje, olho pra elas com outros olhos — e inclusive, venho corrigindo letra, melodia e harmonia com mais cuidado. Espero conseguir produzir mais algumas ainda esse ano.
Parte técnica - Como aconteceu
Falando um pouco da produção em Sy, quer dizer, em si.
O que eu usei... essas bobagens que quem gosta de criar gosta de comentar. é o famoso “arrumando assunto”, rs.
Nesse pequeno vídeo estão algumas imagens da gravação e uma captura de tela, brincando com o Audacity, a título de curiosidade mesmo.(Se é que isso pode interessar a alguém.)
Karuvá Sy, foi gravada com o Audacity, o que sempre usei para minhas gravações. Não é um software cheio de recursos, mas faz o que eu preciso, e até agora tem me bastado. Usei 23 pistas(tracks). Sendo 5 para vocais, 6 para percussão, 2 para o baixo, 6 para teclado/synth, 1 para o ukulele e as demais para violões.
Pra captar tudo, usei meu bom e velho microfone Samson Q1U.
Usei minha percussão de sempre, composta principalmente pela Moringa de barro, mas usei também caxixis feitos com embalagem plástica e pedaços de madeira. Instrumentos improvisados.
Usei um violão folk Hofma, um teclado Casio CTK2300, um Ukulele concert Harmonics e um baixo Tagima Woodstock Series 73. Só o baixo captei com microfone direcionado em um cubinho Warm Music, e para risos de vocês, passando por uma pedaleira Zoom 506 II. Sim, ainda uso uma…
As gravações foram feitas na sala e/ou no quarto da minha casa. E foi assim que aconteceu. Aliás, assim tem acontecido.
Como referência para mixagem, usei os álbuns “Molhado de Suor” e “Vivo!”, lançados em 1974 e 1976 respectivamente, de Alceu Valença, e o álbum homônimo do Zé Ramalho, de 1978.
Falando de som, quem me conhece sabe que tenho um carinho imenso pela música dos anos 70, e tentei manter essa vibe na produção. Se consegui? Bom, depois vocês me dizem.
A verdade é que durante esse processo todo, escutei muita coisa — o que certamente influenciou.
Ouvi MUITA Psicodelia, brazuca e gringa. Os já mencionados Zé e Alceu, mas também Lula Côrtes, Cidadão Instigado, Ave Sangria, Marconi Notaro e outros. Hendrix, Pink Floyd, The Beatles, Neil Young, Santana, Jefferson Airplane, The Doors, Rolling Stones… Muito reggae também, Bob Marley, Horace Andy, Augustus Pablo, Dennis Brown, Skatalites, Groundation e os mais novos como Landon McNamara e Clear Conscience. Muita soul e black music, tipo Earth, Wind & Fire, Billy Paul, Marvin Gaye, Tim Maia, Rick James, Bill Withers. Música brasileira em geral, Junio Barreto, Karina Buhr, Nação Zumbi, Eddie, Posada, Mariana Aydar, Zé Manoel, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Beto Guedes, Braza, Almir Sater, Roberto Carlos… Música Instrumental: Hermeto Pascoal(sempre), Moacir Santos, Letieres Leite, Miles Davis, Coltrane, Medeski Martin & Wood, Tortoise, Basil Kirchin, Gato Barbieri, Daniel Namkhay, Who Killed Bambi, Snorre Kirk… E a galera independente também — Os Toltecas Voadores, Fernando Cheflera e Raul do Pife, Kilgrave, Tristtte, Yahmove e Halé.
Podcasts também me acompanharam nessa jornada, principalmente Discoteca Básica, Ronca Ronca, Foro de Teresina, Anpof, História Preta e Prato Cheio.
Voltei a ouvir minhas próprias músicas — pensando em como melhorar, tentando não repetir os mesmos erros.
Resumindo: Tenho ouvido muita música! Mas não lembro de uma época em que não ouvi muita música…
Na TV vi pouca coisa, mas algumas séries me marcaram, foi o caso de Ruptura, 1971 – O Ano em Que a Música Mudou o Mundo, Yukon Men e Isolados no Alasca.
Venho lendo bastante também: Ailton Krenak (A vida não é útil e Ideias para adiar o fim do Mundo), Byung Chul-Han (A Sociedade do Cansaço), Martí Perarnau (Guardiola Confidencial), Marina Ávila (Contos de Fadas em Suas Versões Originais), Rubem Alves (Ostra Feliz Não Faz Pérola) dentre muitos artigos de leitura obrigatória para a conclusão da Licenciatura…
E finalmente... a Música!
Seguem os links para audição: