Meu Vô, Cabra Macho Sim Sinhô! (Trecho de conto)
Numa tarde ensolarada de dezembro, o solavanco do carro já estava incomodando. Já estava com o traseiro dormente. Seguíamos a quase duas horas aquela estrada esburacada, com o sol em riste. Deveria estar uns 40 graus...
No rádio, uma música cantada pelo tom grave do Waldick Soriano, nem lembro o título da canção, mas combinava bem com a situação de nosso sofrimento.
Aquela paisagem cor de barro, a poeira levantada que nos seguia... Fazia muito tempo que não via uma paisagem assim, desértica, seca – na verdade semi-árida, segundo os livros de geografia. Dos dois lados da estrada, seguia uma interminável cerca, guardando hectares e mais hectares de árvores espinhentas, palmas e mandacarus. Eventualmente via-se também um gado magro sob aquele sol escaldante.
Seguimos por mais alguns minutos, até nos deparamos com uma bifurcação na estrada. “pegamos” a direita e não demorou mais que 10 minutos para que a estrada, agora bem mais estreita, mas ainda sim seca, chegasse ao fim. A nossa frente, um porteira, feita de madeira bem antiga e arame, nos fez parar.
- Chegamos! Sitio da Virgem! – nos revelou o motorista do Santana, que nos havia levado até lá.
- Até que enfim ! minha bunda já estava criando calo! – Respondi.
Por detrás daquele portão, a distancia de alguns metros, estava uma casinha muito humilde, de barro, com telhado de palha. A direita da casa havia algumas árvores e coqueiros, que produziam sombra sobre esta, e a esquerda, um pequeno morro, na verdade era uma pedra. Dava pra ver amarrado no tronco de algumas árvores, um arame que servia de varal, e poucas peças de roupa estendidas.
Aquilo era muito diferente das cidades de João Pessoa e Cabedelo, onde o restante de minha família residia, e menos ainda poderia lembrar o Rio de Janeiro, minha cidade natal, mas a minha vontade de ver meu avô era maior do que o desejo de ter conforto ou qualquer dessas frescuras as quais eu mesmo já estava habituado.
- Só você mesmo para me fazer vir para esse fim de mundo! – Disse meu primo Carlinhos. – Essa hora eu poderia estar pegando “altas ondas”, e você me pede pra trazê-lo aqui!
- Deixa de ser resmungão, moleque. A Quanto tempo tú também não vê o velho?! Ele fica aqui isolado, com a prima Vilminha, que acabou tendo quer largar a escola para não deixá-lo aqui sozinho. Tu sabe como ele é tinhoso, se não viermos aqui, ele também não vai topar ir para casa da tua mãe passar as festas.
Terminamos de desembarcar as mochilas, pagamos o valor combinado ao taxista, e este seguiu seu caminho de volta a Patos, cidade onde contratamos seu serviço.
- Ô de casa!!!! - Gritei enquanto batia palmas.
Demorou algum tempo, até q vi uma cabecinha aparecer na porta que foi entreaberta.
- Ô de casa!!!! - Gritei novamente. – Tô vindo lá do Rio de Janeiro, será que ninguém vem me receber!!!
- É Francisquinho, voinho!!!! – Gritou uma voz feminina.
(continua...)